É possível definir o cinema dos anos 80 no termo pós-modernismo.
A década destacou-se pela reciclagem de gêneros cinematográficos conhecidos,
promovendo a releitura inventiva que consagrou definitivamente nomes como
Martin Scorsese, Steven Spielberg, George Lucas, Brian de Palma e Francis Ford
Coppola, entre muitos outros.
A ficção-científica foi o gênero mais cultuado e ganhou
status pop graças a filmes que se tornaram paradigmas, como as sequências de
Guerra nas Estrelas, O Império Contra-Ataca (1980) e O Retorno de Jedi (1983),
um passo então inédito em termos de efeitos especiais, e sobretudo Blade
Runner, de Ridley Scott. Este filme, estrelado pelo ator-ícone do período,
Harrison Ford, é a obra-prima pós-moderna. Em um original ambiente futurista,
em que tecnologia e massificação se sobrepõem, Ridley Scott, a partir do
romance Philip K. Dick, recicla os estereótipos do filme num thriller eletrizante
que mostra ser possível filosofar em filme de ação. É, sem dúvida, o maior
clássico da década, um filme obrigatório.

O império contra-ataca

Guerra nas estrelas
Os anos 80 também consagrou as sagas. Além de Guerra nas
Estrelas, outras trilogias marcaram época, como Indiana Jones e De Volta para o
Futuro, por sinal um título que expressa bem o clima dos 80. Além de reciclar
os antigos seriados das matinês com Os Caçadores da Arca Perdida (1981),
Indiana Jones e o Templo da Perdição (1984) e Indiana Jones e a Última Cruzada
(1989), dirigiu outro clássico da década, um filme absolutamente encantador,
que impulsionou uma série hoje comum de filmes infantis feitos para encantar os
marmanjos. Bom, só quem foi abduzido nos anos 80 não viu E.T. O Extra-Terrestre
(1982) e o seu revés em forma de sátira Gremlins (1984) , dirigido por Joe
Dante e roteirizado por Chris Columbus, que em 1986 dirigiria o divertido Os
Goonies.

Os Goonies

Gremlins

Indiana Jones

E.T

De volta para o futuro
Outros gêneros passaram pelo processo de reciclagem
pós-modernista. Coppola voltou-se para para a rebeldia sem causa, típica dos
anos 50 e 60, e promoveu ao estrelato uma geração inteira em Outsiders ? Vidas
sem Rumo (1983). Só para lembrar: Matt Dillon, Ralph Macchio, Patrick Swayze,
Rob Lowe, Emilio Estevez e Tom Cruise. Coppola viajaria ainda literalmente no
tempo no delicioso Peggy Sue? Seu Passado a Espera (1986), seu filme mais leve,
que se encaixa na linha de volta para o futuro?. Brian De Palma aprofundou seu
mergulho hitchcockiano em Vestida Para Matar (1980) e Dublê de Corpo (1984),
mas marcou ponto mesmo com a reinvenção do filme de gangster Os
Intocáveis(1987), seu filme mais ambicioso. Mas em termos de reciclagem, nenhum
chegou perto do originalíssimo Robocop (1987), dirigido por Paul Verhoeven.
Aqui o liquidificador tritura ficção-cientícia, quadrinhos e história policial
numa narrativa eletrizante que acompanha o processo de desumanização do
policial Alex Murphy, transformado num complexo homem-máquina, uma espécie de
caveirão ambulante que elimina vilões sem piedade e muito menos sentimento de
culpa. O filme é uma abordagem corajosa da violência e de seus efeitos sobre a
sociedade. Tudo em clima pop, sem maiores delongas.
A onda hoje sedimentada de projetos inspirados em histórias
em quadrinhos foi promovida na década, com destaque para Superman, cuja
tetralogia teve três de seus filmes rodados em 80? Superman II? A Aventura
Continua (1980), Superman III (1983) e Superman IV? Em Busca da Paz (1987) ? e,
é claro, o Batman (1989), de Tim Burton, hoje uma franquia para lá de
consolidada. Mas enquanto o triturador pós-modernista passava o rodo nas
bilheterias, um diretor, bem original, dedicou-se a radiografar a época com um
olhar próprio, sem o filtro dos gêneros reciclados. Seu nome: John Hughes. Nada
mais anos 80 do que o escapista, e hoje elevado a cult, Curtindo a Vida
Adoidado (1986). Em seus filmes, aadolescência oitentista ganha um brilho
especial, uma vivacidade irresistível, sendo tratada com inteligência e
respeito, bem diferente dos infantilizados moleques da franquia American Pie. Além
de Curtindo a Vida Adoidado, Hughes, morto precocemente no ano passado, deixou
o adorável A Garota de Rosa Shocking (1986), promovendo Mollt Ringwald a
namoradinha da América. Adrian Lyne, diretor que costuma provocar arrepio nos
críticos, foi o responsável pelas imagens mais fortes dos 80. As cambalhotas de
Jenifer Beals no musical Flashdance (1983), os jogos sensuais à luz de uma
geladeira de 9 e ½ Semanas de Amor (1986), com o então galã Mickey Rourke, e a
corrida de faca em punho da psicótica Glenn Close no thriller adúltero Atração
Fatal (1987) são inesquecíveis. Egresso da publicidade, Lyne soube como ninguém
impactar e provocar polemica na década.

Curtindo a vida adoidado
Schwarznegger, bem antes de trocar os pés pelas mãos na
política, seguiu um caminho mais original, apostando em roteiros inteligentes,
como o do inventivo O Exterminador do Futuro (1984), que mais tarde também
viraria franquia. ?Hasta la vista, baby? é 80 em estado bruto. O gênero horror
lançou duas franquias de sucesso. Sexta-Feira 13 teve oito partes filmadas nos
anos 80. Mais interessante, mas não menos apelativa, o drama dos insones de A
Hora do Pesadelo teve 5 sequências. Goste-se ou não, Freddy Krueger e Jason
Voorhees fazem parte do escrete hollywoodiano da década. Acompanha-os a
menininha mediúnica da menos bem-sucedida franquia Poltergeist? O Fenômeno
(1982), com duas sequências, e o insuperável Chucky, de Brinquedo Assassino
(1988).
Assim foram os anos 80. De um lado o doce e perseguido ET,
do outro o frenético e persecutor Chucky. E, no meio dessa esquizofrenia toda, os
jovens.